Mira técnica
Aborreci-me com o Facebook. Como sou uma pessoa muito superior a estas coisas, que não precisa de palmadinhas nas costas, uma pessoa muito segura de si, vivida, independente, que não está para aguentar certo e determinado tipo de coisas, resolvi fazer uma pausa nas redes sociais.
Mas antes, decidi fazer uma publicação a comunicar a minha irreversível decisão. Escolhi uma fotografia no Google, uma mira técnica. Sou tão original, meu deus. E que sentido de humor, que sagacidade! Bem sei que pode revelar um bocadinho a minha idade, mas isso seria o de menos.
E escrevi um pequeno texto, muito sarcástico, muito inteligente, sublinhando a quantidade de coisas que tenho para fazer, não pensem que sou uma desocupada só porque publico às três, quatro, cinco vezes por dia no Facebook. Terminei com um desprendido, "Até um dia destes". Vá morram de saudades das minhas publicações brilhantes, não me merecem, seus básicos.
Publiquei, triunfante. Depois fiquei online, a ver quem fazia like, quem me dizia "volta depressa". Foram pouquíssimas as reacções. Foram fazer likes para outro sítio. Carneirada! Consultei o Facebook depois do jantar, antes de me deitar e, no dia seguinte, foi a primeira coisa que fiz logo que acordei. Nada. Ninguém me ligou nenhuma. Só a mira técnica abandonada por esses feeds alheios e os vendidos dos meus seguidores a mudarem de perfil, como quem muda de canal. "Aqui agora já não dá nada", devem ter pensado.
Primeiro senti-me melindrada, um pouco ofendida, até. Depois senti-me ridícula. Depois quase, quase, envergonhada. Mas antes que isso beliscasse a minha auto-estima, pensei, as pessoas são uma merda. Uma bela merda. E comecei a escrever um post sobre isso. Ficou um texto mesmo bom, capaz de arrebanhar uns bons likes. Se calhar volto daqui a dias.