Portas
Hoje fechei uma porta. Demoro muito a fechar portas, tenho muito medo de não poder voltar atrás. A irreversibilidade aterroriza-me. Serei sempre uma criança a achar que tudo pode ficar como dantes, serei sempre a criança que pensava que tudo ficarem bem depois dos gritos que ouvia para além das paredes e da porta do meu quarto. Faz com que passe, faz com que passe. Tremem-me as mãos quando fecho portas, é grande e pesada a culpa daqueles que se acham incapazes de mudar a opressão a que chamam destino. Cerro os olhos e atravesso o escuro a correr para que me pareça mais pequeno, sabendo que já não posso voltar atrás. Nada vai voltar a ser como dantes. Ainda bem. Ainda bem.